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            Conversando com o treinador de cavalos Júnior Mineiro sobre suas viagens a trabalho no Nordeste brasileiro, a sua admiração pelo nordestino e sua cultura, me renderam curiosidades, principalmente, o relato que Junior mineiro fez sobre a vaquejada. Sem esquecer o assunto não consegui conter e debrucei-me a pesquisar sobre esta atividade tão popular entre os nordestinos.

             O título deste artigo é proposital, a anunciação do Juiz determina o resultado de uma competição em que dois homens e seus cavalos buscam o êxito de derrubar o boi dentro das duas últimas faixas de cal, marcada no chão onde ocorre a competição. A transcrição que segue obtida em um artigo na internet sobre como surgiu a vaquejada;  (https://www.ctp.com.br), relata alguns pormenores desta atividade: “Durante a competição, dois homens, a cavalo, perseguem um boi, até emparelhá-lo entre seus cavalos. O objetivo é levar o animal às duas últimas faixas de cal, marcadas no chão onde ocorre a competição. Nesse local, o boi deve ser derrubado pelo puxador, um dos vaqueiros. Este tem a função de puxar o rabo do boi, derrubando-o dentro da faixa apropriada. O outro vaqueiro, o batedor de esteira, tem a função de levar o boi para o derrubador, empurrando-o com as pernas do seu cavalo.

            Outra peça fundamental para a competição é o juiz, este atua como árbitro, posicionando-se no alto da faixa onde o boi será derrubado. Dependendo do local em que o animal caia, pontos são somados ou não à dupla. Se o boi for derrubado dentro da faixa própria para esse fim, com as quatro patas para o ar, o juiz grita para o público: “Valeu Boi” (pontos são somados à dupla). Caso isso não aconteça, ele fala: “Zero Boi”(a dupla não consegue somar pontos)”.

            A vaquejada é um esporte de tradição, é geracional e tornou-se também um aditivo econômico que soma relevância à economia do Nordeste. Ela envolve um empresariado, criadores de cavalo e de gado, pessoas aptas ao manejo, parques de eventos e estruturas de competição que variam em suas formas de acordo com a região. A modalidade ultrapassou as fronteiras do Nordeste e atualmente é praticada em vários Estados do Brasil.

            Outro destaque a considerar é a habilidade dos homens e de seus cavalos nas competições que movimentam o ciclo turístico e cultural. O esforço e a dedicação dos competidores são recompensados por prêmios valiosos e abundantes oferecidos aos vencedores. Há também os que competem apenas pelo amor à vaquejada, uma atitude nobre que propicia a continuidade da tradição.

            Na academia do curso de história aprendi que o historiador deve considerar sempre a possibilidade de interpretar as fontes sejam estas orais, escritas ou de outra natureza. É a partir da interpretação das fontes que a história é contada, quase que sempre com a preocupação de não cometer fetichismo ou propensão. É com esta atenção aos detalhes que escrevo, e por consequência me determinei a entender como se deu o processo histórico da vaquejada.

            Sabe-se que desde o início do processo de colonização do território brasileiro a atividade pecuária desempenhou papel importante na estrutura produtiva. Inicialmente foi primordial no abastecimento dos núcleos urbanos e, posteriormente, expandiu-se em direção ao sertão nordestino, onde o gado passou a ser criado solto em pastagens naturais. Neste contexto surge a figura do vaqueiro, que tem como atividade principal, ajuntar e conduzir os rebanhos para facilitar o manejo e o transporte do gado. Conforme relato de Melhem Adas geógrafo e escritor brasileiro na obra: Panorama Geográfico do Brasil – Contradições, impasses e desafios sócios espaciais; “Os primeiros bovinos foram introduzidos na Capitania de São Vicente (São Paulo) em 1534, enviados de Portugal por Dona Ana Pimentel, esposa e procuradora de Martim Afonso de Sousa. Em 1535, Duarte Coelho introduziu os bovinos em Pernambuco; posteriormente outros donatários fizeram o mesmo”.

            Já a vaquejada pelo que se compreende historicamente surge como lazer e posteriormente vai ganhando status de esporte e competição. As fontes históricas dão conta de que é por volta de 1940, que alguns vaqueiros nordestinos começaram a tornar públicas suas habilidades, na Corrida do Mourão, que começou a ser uma prática popular na região, conforme pode ser encontrado no conteúdo do site wikipedia.org:

            “Na década de 1940 vaqueiros da Bahia e do Ceará começaram a divulgar suas habilidades na lida com o rebanho, por meio de uma atividade que ficou conhecida como “corrida de morão” (ou “mourão”) e que se diferenciava da pegada de boi por realizarem-se no pátio das fazendas. Os vaqueiros desafiavam-se correndo, um de cada vez, atrás do boi em qualquer espaço do pátio. Ganhava aquele que mais se destacasse na puxada do boi.”

            A partir daí, coronéis e senhores de engenho passaram a organizar torneios de vaquejadas, onde os participantes eram os vaqueiros. Estes recebiam apenas um agrado dos coronéis, pois ainda não havia premiações.

            Volto-me então á aquela agradável conversa que tive com o treinador de cavalos Júnior Mineiro, de quem, com a minha “mineirez” hereditária, esmiucei detalhes da paixão nordestina pela vaquejada. Aprendi que o assunto é temático e ás vezes polêmico, mas é tratado com zelo, responsabilidade, e que a atividade exige muita dedicação. É realizado um trabalho duro pela gente da vaquejada. Os cavalos quase sempre de uma linhagem estratégica, são treinados para o objetivo. Empreende-se e investe somas de dinheiro para que as competições tenha um índice elevado de qualidade. Os competidores quase sempre são muito ligados aos seus cavalos e se completam, durante a competição. E aí o que mais se espera, o que mais se quer ouvir é o amplificado grito final de “valeu boi”, e depois então contemplar a euforia do público glamoroso, que atônito acompanha minuciosamente cada acontecimento.

Autor: Hélio Fernandes

Junior Mineiro Vaquejada


1 comentário

Marcos goes - Shopping Virtual Comprenanet · 4 de dezembro de 2020 às 06:08

Ótimo trabalho!
Após perder muito tempo na internet encontrei esse blog
que tinha o que tanto procurava.
Gostei muito.
Meu muito obrigado!!!

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