fbpx


Neto de tropeiro que sou o assunto sempre despertou a minha atenção, não o conheci, mas meu avô paterno nas primeiras décadas do século XX exercia periodicamente a atividade, revezando também com os trabalhos da agricultura de subsistência nas terras de sua propriedade em Piedade dos Gerais, cidade mineira localizada no vale do Rio Paraopeba, região descoberta e povoada no período colonial do Brasil.
Em alguns períodos ele viajava pelas cidades e povoados do interior de Minas Gerais na região do vale do Rio Paraopeba, onde comprava artigos e gêneros de primeira necessidade para vender nos povoados da sua vizinhança: Ovos, galinhas, queijos, feijão, rapadura, farinha de mandioca, sal, arroz, entre outros artigos, faziam parte da sua carteira de negócios. Para o deslocamento, como quase que a maioria dos tropeiros tinha uma pequena tropa, formada por burros e mulas.
Eu valorizo muito a história, sobretudo a nossa história, a história da nossa gente, suas transformações sociais e o desenvolvimento econômico deste país continental. Ela, a história deve estar sempre viva, e para que seja transmitida, é salutar procurarmos os fatos através das mais diversas fontes, como se procura um mineral precioso em solo profundo. Ela, a história não é encontrada já polida e finalizada, Temos que extrair da fonte e transmiti-la com a maior proximidade possível da sua realidade sem cometer algum lapso ou anacronismo, por entusiasmo pessoal. Então com a experiência acadêmica que possuo, e pelas ligações que tenho com o mundo equino, considero apropriado falar um pouco sobre os tropeiros, e da considerada contribuição empregada por eles para que tivéssemos o Brasil de então.
O tropeirísmo foi uma atividade importantíssima no desenvolvimento do Brasil, os tropeiros eram homens que compravam e vendiam. Eles deslocavam-se por trilhas e percorriam caminhos, passando por montanhas e desertos, rios grandes e pequenos. Transportavam uma variedade de artigos e abasteciam povoados e aldeias com gêneros de primeira necessidade e com as novidades que adquiriam nos centros comerciais de suas rotas. A atividade era tão presente no cotidiano das pessoas que os tropeiros também se davam ao serviço de mensageiro, levando e trazendo cartas e notícias de uma cidade ou aldeia para outra. A atividade não tinha fronteiras de Norte ao Sul do Brasil ou de Leste a Oeste as tropas viajavam por distancias que às vezes a viagem durava meses.
Nas viagens dos tropeiros quando em comboios eles sempre contavam com uma liderança entre os animais, uma égua ou mula, reconhecida como líder pela tropa, quase sempre a mais velha. Ela tinha no pescoço um cincerro conhecido também por sino ou guizo, e muito usualmente enfeites coloridos na cabeça feitos com fitas ou tiras de pano. O cincerro ou guizo, com a movimentação produzia um ruído com um som que servia de orientação para os demais animais. “Auguste Saint-Hilaire, botânico, naturalista e viajante francês que veio da Europa ao Brasil entre os anos de 1816 e 1822, quando este ainda era Colônia de Portugal, observando em muito o cotidiano e a cultura do povo brasileiro fez o seguinte registro: ” No silêncio das matas ouvia constantemente o eco das vozes dos tropeiros e o ruído dos guizos da madrinha da tropa, mula predileta que guia fielmente a caravana, a cabeça ornada de panejamentos coloridos tendo ao alto uma pluma ou uma boneca.” (Revista de história da Biblioteca Nacional). A estratégia é então antiga e em muito facilitava a viagem, pois em muitas destas, nas paradas para descanso e alimentação e para as pernoites, os animais eram colocados para pastar em locais de densa vegetação.
Na maioria dos Estados Brasileiros os tropeiros estabeleceram rotas, e nestas fixavam pontos de parada para descanso de um dia para o outro. Com o passar dos tempos esses locais tornaram se núcleos e aldeias que deram origem a varias cidades. O tropeirismo facilitou a integração do interior do Brasil com os grandes centros e proporcionou a subsistência de muitas famílias brasileiras. O Sul do Brasil, rico em gados e em muares, até mesmo pelo fácil intercâmbio com os países de fronteira, abasteceu o Sudeste do país, transportando para lá um número expressivo de mulas e implementos bovinos: couro, charque, e outros derivados. O retorno dos tropeiros era sempre recompensado pelas altas somas de dinheiro e artigos que enobreciam as famílias e as sociedades. Já no Sudeste as tropas foram muito utilizadas para integrar o Estado de São Paulo com a região de extração de ouro em Minas Gerais. Os tropeiros possuíam a peculiaridade de estabelecer rotas e foram muito uteis nos ciclos econômicos do Brasil anterior.
Autor: Hélio Fernandes


0 comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *